Mateus 26:26
“A way of life can be shared among individuals of different age, status, and social activity. It can yield intense relations not resembling those that are institutionalized. It seems to me that (male friendship as) a way of life can yield a culture and an ethics. To be “gay,” I think, is not to identify with the psychological traits and the visible masks of the homosexual but to try to define and develop a way of life.”
—Michel Foucault, ‘Friendship as a Way of Life’, 1981.
—Michel Foucault, ‘Friendship as a Way of Life’, 1981.
A homossexualidade tem vindo, ao longo de séculos, a ser marginalizada e estigmatizada. Conceitos como conduta ou normalização, adquirem uma conotação legisladora imposta pela Igreja Católica, criando quadros sociais e regulando as suas funções. As condenações feitas pela igreja católica têm como base o comportamento “contranatura”, isto é, contrário à primazia da reprodução que seria a principal função da união de dois indivíduos de sexos diferentes. Diferentes tipos de orientação sexual segundo os ideais católicos, são condenáveis, pois a “normalidade” passa por imagens socialmente construídas e a construção de género é feita segundo o modelo heterossexual.
Com isto não pretendo a afirmação de que os homossexuais têm uma conduta específica. A forma de preconceito contra os homossexuais, mais complexa de ser alterada é a criação de imagens globais, como se a homossexualidade definisse um tipo completo de personalidades e de acção, ideia que ninguém é tentado a aplicar aos heterossexuais! Na realidade, a imagem dos homossexuais permanece socialmente marcada, o que enfraquece o seu papel na transformação no sentido da sexualidade.
Estes, por sua vez, conduzem a um isolamento dos homossexuais impedindo muitas vezes a saudável vivência entre o homossexual e a sociedade em geral, sendo ainda hoje notado e sentido fora dos grandes centros urbanos, e a igreja ainda tem um papel central na vida das populações.
Segundo Alain Touraine, a sexualidade não é um dado biológico, nem tão pouco uma construção social imposta pelo poder masculino (Touraine, 2008:81). A igreja católica é uma instituição dirigida, unicamente, pelo poder masculino.
Assim, pretendo com esta peça rasgar os princípios da ideologia da igreja católica, dos seus dignatários, representantes e seguidores sobre diferentes tipos de orientação sexual.
As metáforas, sagrado e profano surgem como mote para a ligação entre uma redoma de vidro e um falo em pasta de açúcar.
Nesta peça utilizei simbolicamente quatro elementos, dois deles, numa dimensão estética na significação metafórica e alegórica das mitologias queer. Um falo e a cor rosa, muitas vezes vistos como um elemento iconográfico ligado a alguns clubes, bares, revistas, sites e blogues gay.
Outro elemento utilizado é uma redoma de vidro onde foram e são exibidas relíquias ou outros objectos de carácter “sagrado” ou precioso e, em vez disso, temos no seu interior um falo de argila coberto em pasta de açúcar. Simbolicamente é atribuída uma função protectora e isoladora, enaltecendo o que por ela é resguardado.
O último elemento consistiu na utilização da pasta de açúcar, que surgiu pela necessidade da própria alteração do estado da matéria e, em última análise, a mutabilidade da peça. Sendo um material orgânico e comestível, quando exposto às condições atmosféricas, sofre uma metamorfose, alterando-o e degradando-o. Esta alteração de material permite-me criar a analogia do desfazer/destruir/alterar de regras que surgem na ideologia católica e que se deterioram pela sua absurda visão de questões como a identidade e diversidade sexual do individuo. Tudo isto diz respeito a ele próprio e não deverá ser balizado, regrado ou imposta por uma instituição em detrimento da aplicação da “divina palavra”.
O título da peça, MATEUS 26:26, é uma passagem da Bíblia Sagrada, no Novo Testamento do Evangelho Segundo São Mateus: “Tomai, comei: isto é meu corpo.” A ideia surge como uma espécie de provocação da forma como a “divina palavra” pode ser interpretada de acordo com a intenção de quem a lê, sendo a Bíblia Sagrada a palavra de Deus, ou seja, um código de conduta, é interpretada e traduzida de acordo com as crenças, valores e conhecimentos de quem a difunde. Esta estará sempre sujeita a reinterpretações e novas leituras ou significados, dependo da cultura, sensibilidade e formação, de quem a escuta ou a lê.